Tivemos tempo e nos roubamos, contrabalanceamos uma ventura que não era possível ser nossa. E como poderia? Míseros, mesquinhos, pequenos e enfadonhos como somos, que possibilidade havia de aquele fragmento momentaneamente incompreensível de alegria ser aquilo que chamam de felicidade?
Não, felicidade é plena e eterna - se dizem, não pode ser inverdade -, é a dádiva dos que merecem, dos fortes e perseverantes, não dos inconstantes, dos confusos, dos amargurados pela vida e desgostosos com a espécie humana. Não podia ser real, não podia ser nosso. Eu, especialmente não merecia algo tão bom assim. Incomodava-me tal como me sinto ao entrar errado na fila sem perceber, percebendo somente aos poucos, ao observar como todos ao redor me olhavam, me julgavam, até que eu própria me julgasse culpada também, imunda por furar a fila e estar onde não merecia.
Mas você merece, e merece muito mais que eu, com certeza. Você é forte, é único, independente e tem uma imaginação incrível, seu potencial excede muito a falta de tudo o que vejo em mim. Talvez por isso sabotei aquela mentira. Porque, na dúvida, ela não podia ser verdade.
Podia?
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